Introdução
Há uns meses, reli todas as cartas paulinas (e também as deutero e trito paulinhas). Com isso, fui realizando algumas anotações e, baseado na minha leitura, fiz um breve (bem breve) resumo da teologia paulina, mais especificamente no aspecto de uma, digamos, “história da salvação”. Segue:
Um Breve Resumo da Teologia Paulina
Todo o homem, por si só, é perverso, injusto, inimigo de Deus, mentiroso. O homem não busca a Deus. Não pratica o bem. [1]
A Lei (mosaica) foi dada para que o homem conhecesse o que é o pecado. [2] Entretanto, homem algum conseguiu cumprir a Lei. [3] E aquele que não cumpre ao menos uma das prescrições da Lei, é maldito. [4]
Os pagãos não estão isentos por não terem recebido a Lei (que foi entregue aos judeus), pois a Lei demonstra-se gravada em seus corações através da sua consciência que, diante de suas acusações, os acusa ou os defende. [5]
A Lei também foi dada para que se manifestassem as transgressões do homem. A Lei expõe a maldade do homem a fim de que “toda a boca se cale e o mundo inteiro se reconheça réu em face de Deus”. [6] A Lei também mostra a distância entre as ações injustas do homem e as ações justas de Deus. [7] Neste sentido, a Lei serviu também em sentido pedagógico. [8] O povo judeu foi escolhido para a ele serem confiadas as revelações de Deus. [9]
Portanto, a Lei, por si só, não resolveu o problema do pecado, pois deu a instrução, mas não deu o poder para que a instrução fosse cumprida. [10] Consequentemente, o pecado, apropriando-se da Lei, trouxe a morte por ela. [11] Antes da Lei, o homem não conhecia o pecado, mas sobrevindo a Lei, o homem passa a conhecer o pecado e se torna inescusável diante de Deus. [12]
Perante isso, foi manifestada a justiça de Deus. Deus, por sua boa vontade resolveu justificar o homem através da morte expiatória de Cristo de forma que todo aquele que cresse/tivesse fé na obra salvadora de Cristo seria, gratuitamente, justificado. [13] Portanto, a justificação não é mérito do homem, mas exclusivamente de Deus. [14]
Através da obra de Cristo, houve uma nova criação. Na criação antiga, pela desobediência do primeiro Adão, espalhou-se o pecado e a morte no mundo. Da mesma forma (e em quantidade ainda mais abundante), na nova criação, pela obediência do “novo Adão”, ou seja, Cristo, espalhou-se a justificação de Deus e a vida eterna. [15]
O homem, através da fé na justiça de Deus realizada através do ato de Cristo, passa pelo batismo. Pelo batismo, o homem se torna participante desta nova criação tornando-se nova criatura. Assim como ele submerge e emerge nas águas, ele morre e vive em Cristo, morrendo para a antiga criação e nascendo de novo para a nova criação. [16] Em paralelo à antiga criação, onde o homem foi criado à imagem de Deus, na nova criação, o homem é criado à imagem de Cristo. [17] Nisto, morto e recriado, o homem está livre das suas condenações, pois morreu o velho homem. [18] Da mesma forma, o homem está morto para a Lei que era parte da primeira criação. [19] Com isso, o novo homem, passa a seguir, não a Lei mosaica antiga, mas a nova Lei, a Lei de Cristo ou Lei do Espírito, que consiste não em caducidade da letra, mas apenas no simples preceito de amar ao outro. [20] Uma diferença fundamental em relação ao antigo estado e a Lei mosaica (onde o homem não possuía força para cumpri-la), é que, com o batismo, o homem recebe o Espírito Santo, que concede ao homem a força para cumprir a Lei de Cristo. [21]
Participando, desta morte e nova vida em Cristo, o homem se apropria das características de Cristo. Com isso, assim como Cristo foi ressuscitado por Deus, o homem, em sua nova vida, não está mais sob o domínio da morte e também há de ressuscitar através da ressurreição de Cristo. [22] Esta ressurreição não será apenas em espírito, mas em um corpo transformado, assim como, segundo Paulo, a planta nasce após a morte da semente, concluindo a ação criadora de Deus. [23] Além disso, assim como Cristo era filho de Deus, o novo homem passa a ser filho de Deus. [24]
OBS: Os grandes adversários de Paulo eram os cristãos judaizantes, que pregavam “outro evangelho”, onde havia a necessidade de se cumprir a Lei mosaica, o que ia de confronto com todo o raciocínio da teologia paulina.
Referências
[1] Rm 1:18-32; Rm 3:9-19
[2] Rm 7:7-8; Rm 3:29; Rm: 5:20; Rm 4:15
[3] Gl 3:11-12; Rm 3:21-23; Rm 3:1-19; Rm 5:12; Gl 6:13
[4] Gl 3:8-14
[5] Rm 2:1-16
[6] Gl 3:19; Rm 3:19-20; Rm 5:20
[7] Rm 3:5
[8] Gl 3:23-4:11
[9] Gl 3:1-2
[10] Rm 7:7-24; Rm 8:1-3a; Gl 3:11; Gl 3:21-23; Rm 3:20
[11] Rm 5:20-21; Rm 7:7-13; 1 Co 15:56
[12] Rm 5:13; Rm 2:1; Rm 4:15; Rm 3:19; Rm 5:20; Gl 3:19
[13] Rm 3:21-26; Rm 5:6-11; Gl 1:3-5; 1 Co 15:3; 2 Co 5:14-15; 1 Ts 5:9-10; 1 Co 5:7; Rm 4:25 (embora a tradição da morte expiatória de Cristo não tenha se originado em Paulo, mas na protoigreja, ele reproduz estas tradições pré-paulinas)
[14] Rm 3:27-30; Rm 4:2-8; Rm 9:16; 1 Co 1:27-29
[15] 2 Co 5:17; Gl 6:15; 1 Co 15:21-23; 1 Co 15:45-49; Rm 5:12-20; Rm 6:4 (ver também os discípulos de Paulo em Ef 2:15; Ef 4:24; Cl 3:9-11)
[16] Rm 6:3-4; Gl 3:25-27
[17] Rm 8:29
[18] Rm 6:3-11; Rm 8:1; Rm 8:31-39
[19] Rm 7:1-6; Gl 2:19-21; Gl 3:13-20; Gl 3:18; Gl 4:21-31; Gl 5:1-5; Rm 10:4; Fl 3:9
[20] 1 Co 9:20-21; Gl 6:2; Rm 8:2; Gl 5:14; Rm 13:8-10; Gl 5:6; 2 Co 3:6-18
[21] Rm 8:3-4; Rm 8:13-14; Rm 8:10; Rm 8:26-27; Gl 5:16
[22] Rm 8:10-11; Rm 6:4-11; 1 Co 15:12-23; 2 Co 4:14
[23] 1 Co 15:35-55; Rm 8:22-23; Fl 3:20-21; 2 Co 5:1-10
[24] Rm 8:14-17; Gl 4:1-7
