1 - Introdução
Como disse Reinaldo José Lopes, as coisas seriam muito
mais simples (ou talvez muito mais chatas, para quem gosta de um desafio) se a Bíblia Hebraica (ou Antigo Testamento) fosse escrito como um
relato jornalístico do começo ao fim. Mas não é isso o que acontece. A Bíblia Hebraica não é um livro de história, nem foi escrito de forma
cronológica, os livros contidos nela, de forma geral, não foram escritos por um
único autor e nem foram escritos de uma vez só. A Bíblia Hebraica é um livro
religioso, e até mesmo político, que está mais para uma “colcha de retalhos”,
onde se adiciona um novo “remendo” de acordo a demanda da sociedade da época (Sitz im Leben). Assim, textos mais
antigos são editados por redatores, textos novos são criados e compilados a
textos e tradições antigas e (porque não?) textos também são excluídos. Em meio
a isso, o trabalho árduo é tentar extrair destes textos alguns “traços de
memória” de tradições mais antigas que sobreviveram em meio aos textos que se
apresentam na forma atual a nós. Isso é feito sob muita pesquisa científica
através de ferramentas como a crítica literária, crítica textual, análises
filológicas, análises diacrônicas, etc. Claro que tudo isso se junta a
evidências arqueológicas, epigráficas, iconográficas, etc, obviamente
considerando um contexto geográfico como um todo incluindo inscrições,
documentos e anais egípcios, assírios, babilônicos e etc. Ou seja, filtrar a
coisa dá muito trabalho.
Com isso, descobrimos que a origem de Yhwh pode ser muito
diferente do que se pensa por aí. Preparado? Vamos lá!
2 - Israel e Politeísmo
O povo de Israel não teve Yhwh como seu deus desde o
princípio. Inicialmente, este povo tinha outros deuses. Já se nota isso pelo
próprio nome “Israel” (יִשְׂ רָ אֵ ל ) que se trata de um nome teofórico, que
faz referência ao Deus El (אֵ ל). El é um Deus cananeu, mais especificamente o
chefe do panteão cananeu. Além do próprio nome do povo, diversos nomes de
cidades estão ligadas a diversos deuses, como Anat (Anatoth, Jr 1:1-2: o lugar
de origem do profeta Jeremias), Baal (Baal-Peracim, 2 Sm 5: o lugar onde Davi
vendeu os filisteus) Dagon (Bet-Dagon, Js 15:41: localidade situada no
território de Judá), o já citado El (Beth-el, um dos maiores santuários de
Israel), Shalimu (Jerusalém), Shamash (Bet-Sames, 1 Sm 6: lugar dedicado ao
deus solar, próximo de Jerusalém, servindo de entreposto para a arca da
aliança), dentre outras (isso para não falar de nomes de personagens bíblicos
israelitas/judaítas com nomes teofóricos referente a diversos deuses). Além
disso, o próprio nome Yhwh pode ser uma referência a um epíteto para o grande
chefe El, pois um de seus epítetos era “El Du Yahwi Saba'ôt”, ou seja,
"El, aquele que cria os exércitos". Epíteto esse que, provavelmente,
gerou depois o epíteto de Yhwh “Yhwh Seba’ôt”, que é atestado 284 vezes na Bíblia Hebraica (que é traduzido em muitas bíblias em português como “Senhor
dos Exércitos”).
2.1 - El na Bíblia
Falando de El e seus epítetos, o nome El, sozinho ou sob
diversos epítetos, é bastante atestado na Bíblia Hebraica, com mais frequência
nos livros de Gênesis a Reis (conjunto de livros que muitas vezes são
classificados como Eneateuco) onde corresponde a 1,06 de cada 1000 palavras. Vamos ver alguns
exemplos:
• El – Em Gênesis 33, Jacó erige um altar em Betel e o
chama de claramente de “El, Deus de Israel” (Gn 33:22).
• El Elion (El Altíssimo) – Em Gênesis 14:18-22,
Melquisedec, rei de Salém e sacerdote de El Elion, abençoa a Abraão em nome de
El Elion.
• El Roi (El da Visão ou El Me Vê) – Em Gênesis 16, Agar,
que é mãe de Isma“el”, deu esse nome ao deus que se revelou a ela por meio de
um anjo (Gn 16:13).
• El Olam (El de Sempre ou El de Eternidade) – Em Gênesis
21:22-32, Abraão planta uma tamargueira em Bersabeia e invocou o nome de El
Olam.
• El Shaddai (termo de tradução discutida, mas uma das
hipóteses seria algo como El da Montanha) – Em Gênesis 17:1, Yhwh apareceu a
Abraão e se apresentou como El Shaddai.
OBS: Muitas vezes as traduções escondem esses termos.
Estatueta de El encontrada em Meguido, datada entre os séculos XIV-XIII a.C
3 - Chegada de Yhwh no Panteão
O povo de Israel, inicialmente, não cultuava a Yhwh. Entretanto,
com o passar do tempo, Yhwh surgiu no panteão. Alguns textos bíblicos podem
manter alguns traços de memória de tradições antigas relacionadas à origem de
Yhwh:
Deuteronômio 33:2 – Ele disse: Yahweh veio do Sinai,
alvoreceu para eles de Seir, resplandeceu do monte Farã. Chegou a Meribá de
Cades, desde o sul até as encostas.
Juízes 5:4-5 – Yahweh, quando saístes de Seir, quando
avançastes nas planícies de Edom, a terra tremeu, troaram os céus, as nuvens
desfizeram-se em água. Os montes deslizaram na presença de Yahweh, o do Sinai,
diante de Yahweh, o Deus de Israel.
OBS: esse texto de Juízes 5, é considerado por muitos um
dos textos mais antigos da Bíblia Hebraica.
Salmo 68:8-9 e 18 – Ó Deus, quando saíste à frente de teu
povo, avançando pelo deserto, a terra tremeu, e até o céu dissolveu-se na
presença de Deus, na presença de Deus, o Deus de Israel. Os carros de Deus são
milhares de miríades; o Senhor veio do Sinai para o santuário.
Habacuc 3:3 e 10a – Eloá vem de Temã, e Santo, do monte
Farã. A sua majestade cobre os céus, e a terra está cheia de seu louvor. Ao
ver-te as montanhas tremem.
Sem me alongar muito na explicação sobre estes textos (no
final deixo uma indicação de literatura para quem quiser se aprofundar mais),
de forma resumida, todas essas localidades apontam para a região do Sul.
OBS 1: O texto de Juízes 5 é bem próximo do texto do
Salmo 68. Ainda mais, considerando que o texto do Salmo 68 faz parte do
Saltério Eloísta (salmos 42-83), um grupo de salmos onde posteriormente se
substituiu, no texto, o nome Yhwh por Elohim (traduzido por “Deus”).
Considerando que, inicialmente, havia um “Yahweh” no lugar de “Deus” ali, no
começo da citação do texto retirado do salmo, o texto fica ainda mais
semelhante.
OBS 2: A localização do monte Sinai, que hoje é
tradicionalmente atribuída à Peninsula do Sinai, se baseia em um tradição
cristã do século IV, e possivelmente não representa o Sinai mítico das
tradições antigas.
Como estava dizendo, bem resumidamente, estas citações
podem direcionar a origem de Yhwh como vindo do Sul. Alguns, com diversos
argumentos, vão especificar essa localidade em Edom. Existem também outras
hipóteses como, por exemplo, a madiano-quenita, assim como a de Ebla (devido a
algumas tábuas de argila encontradas no local), a de Ugarit (devido a um texto
encontrado, onde há uma banquete de El e seu filho, cujo o nome, pode-se
traduzir por uma forma abreviada de Yhwh), a de Mari (por conta de outros
documentos arqueológicos) e também do Egito. No Egito, graças à arqueologia, é
onde temos a referência textual mais antiga ao nome de Yhwh, em uma lista de
Amenófis III de Soleb, no Sudão (por volta de 1370 a.C.). Nessa lista, consta a
expressão “terra dos Shasu – Yhw(h)” ou “Yhw(h) na terra dos Shasu”. O termo
shasu é referente a um grupo nômade que vivia por volta das regiões do sul de
Israel. Existe até mesmo a possibilidade de um grupo desses Shasu ou mesmo dos
Hapiru (outro grupo de nômades - alguns defendem que do termo “hapiru” ou “habiru”
possa ter gerado o termo “hebreu”) terem fugido do Egito, tendo, no
caminho, contato com Madiã ou o Sinai e, com isso, terem trazido esse culto de
Yhwh após, chegando pelo sul, terem se encontrado e se instalado com os
israelitas, possivelmente, gerando uma tradição do Êxodo mais tarde.
Mas como foi dito, não vou me alongar a essas questões.
Pois existem argumentos muito extensos sobre essa origem da divindade Yhwh e
não pretendo estender mais ainda o texto. O fato é que, independentemente da
origem, em um certo momento, Yhwh se encontra instalado no panteão de Israel e
ainda subordinado ao deus El.
4 - Yhwh Como Integrante do Panteão e Subordinado a El
Um texto que pode ter um traço de memória deste momento é
o texto de Deuteronômio 32:8-9:
"Quando Elion (epíteto de El, já mencionado acima,
que refere-se ao título de Altíssimo) repartia as nações, quando espalhava os
filhos de Adão ele fixou as fronteiras para os povos, conforme o número dos
filhos de Deus; mas a parte de Yahweh foi o seu povo, o lote da sua herança foi
Jacó." (Dt 32:8-9, com parênteses acrescentado por mim)
Neste texto, parece que é mostrado o concílio de El, onde
o chefe do panteão distribui os povos para cada um de seus filhos (outros
deuses subordinados, como, por exemplo, Baal). Neste caso, a parte de Yhwh foi
a descendência de Jacó, o povo de Israel.
É possível também que possa haver algum traço de memória
referente a este concílio em outros textos, como por exemplo:
Salmo 82 - Elohim preside, na assembleia de El, em meio
aos deuses ele julga: “Até quando julgareis falsamente... eu declarei: vós sois
deuses, todos vós são filhos de Elion”.
OBS: considerando que o salmo 82 faz parte do saltério
eloísta, é possível que no lugar do termo “Elohim”, incialmente, havia
“Yahweh”
Salmo 89:6-7 - E quem, sobre as nuvens, é como Yahweh?
Dentre os filhos dos deuses, quem é como Yahweh? El é terrível no conselho dos
santos, grande e terrível com todos os que o cercam.
Neste momento, já pode se notar um destaque de Yhwh entre
os filhos de El.
Bem, até aí Yhwh é um filho de El, que já,
aparentemente, começa a se associar a uma divindade nacional do povo de Israel.
Sabemos que, posteriormente, Yhwh será considerado o deus único de Israel, mas
como isso aconteceu?
5 - Yhwh Gradualmente Toma o Lugar de El
Em Kuntillet Ajrud, foi-se descoberto, desenhos com
inscrições relatando textos como “... Eu vos abençôo por Yhwh de Samaria e sua
Asherá”, outros textos fazem referência a um “Yhwh de Temã e sua Asherá”.
Asherá era uma deusa semítica. Esta deusa era, originalmente, a consorte (esposa real) de El e mãe de deuses menores do panteão. Entretanto, nesse momento, Asherá aparece como consorte de Yhwh. Ou seja, Yhwh tomou o lugar de El. Estas inscrições são datadas por volta do início do século VIII a.C. Ou seja, em algum momento, já no início do século VIII, por algum motivo, Yhwh já tomou o lugar de El e inclusive está com a sua consorte.
Dois personagens sob a inscrição do Pithos A ("Eu vos abençoo por Yhwh de Samaria e sua Asherá") encontrada em Kuntillet Ajrud, datada do início do século VIII a.C.
Outras atestações, como inscrições em Khirbet el-Qom,
fazem também referência a Yhwh e Asherá.
O culto a Asherá, juntamente com Yhwh, permaneceu por
muito tempo (talvez só tendo sido de fato eliminado depois do exílio). Embora
os redatores bíblicos tenham tentado apagar qualquer referência a um culto a Asherá, algumas pistas ainda podem ter escapado, como, por exemplo, em Jeremias
44. Neste texto, o orador lhes explica que a catástrofe do exílio ocorreu
porque o povo havia se devotado a outros deuses. Os judaítas aos quais ele se
dirige, contestam essa interpretação dizendo o seguinte:
“Nós vamos fazer tudo o que decidimos: queimar incensos à
Rainha do Céu e fazer-lhe libações como havíamos feito, nas cidades de Judá e
nas ruas de Jerusalém... tínhamos então, fartura de pão, éramos felizes sem
conhecer a desgraça. Desde que cessamos de oferecer incenso à Rainha do Céu,
tudo nos falta e nós perecemos pela espada e pela fome.”
É possível que o termo “Rainha do Céu” se refira a uma
manifestação da deusa Asherá (como também a Ishtar, que seria um outro caso). A
importância das mulheres no culto a Asherá é atestada no relato de 2 Reis
23:6-7. Sendo assim, de acordo com os argumentos apresentados pelos judaítas em
resposta a Jeremias, o exílio ocorreu porque eles pararam de realizar oferendas
à “Rainha do Céu” (talvez uma reclamação da reforma de Josias?).
Bem, então, Yhwh, que inicialmente era um deus
“outsider”, vai tomando o lugar de El, de modo que El desaparece. Posteriormente,
o termo El, assim como seus derivados (Eloá, Elohim, etc), acaba se tornando um
termo genérico para “deus” sem designar um nome próprio. Poderíamos relacionar
outras características, como por exemplo, a questão de El morar em uma tenda e
Yhwh, de acordo com a Bíblia Hebraica, ter a sua primeira casa também em uma
tenda (tabernáculo). Também já foram demonstradas no tópico 2.1 deste texto as referências
a El, que posteriormente passam a ser atribuídas a Yhwh. Mas, se tratando de um
breve resumo, vamos seguir em frente.
6 - Yhwh Absorve Características de Outros Deuses
Mas, não é só El que é “absorvido” por Yhwh. Outros
deuses também têm as suas características atribuídas a Yhwh com o passar do
tempo. Um deles é Baal. Convém aqui fazer uma pequena divisão entre o Israel e
Judá, o Reino do Norte e o Reino do Sul.
6.1 – Em Israel
Mais especificamente em Israel, o Reino do Norte, Yhwh
recebe características de um deus da tempestade, assim como Baal (ou Hadad).
Assim, textos que já citamos como Jz 5:4:5 e Salmos 68:8-9 e 18, dentre
diversos outros, trazem, junto a Yhwh, elementos que são característicos de um
deus da tempestade cananeu, como Baal. Em Jr 23:19, temos a tempestade de Yhwh.
Baal possui o título de “cavaleiro das nuvens”. Em Sl 104:3, Yhwh utiliza as
nuvens para percorrer o céu: “das nuvens ele fez o seu carro”. No salmo 29:3-9,
Yhwh é descrito com característica de um deus da tempestade que domina as
águas, como também é descrito Baal nos textos de Ugarit. Baal (assim como El) é comumente
figurado a um touro e no Reino do Norte, Yhwh, segundo a Bíblia Hebraica, foi
adorado nos santuários de Betel e Dã com estátuas de touro. Isso pode explicar
também a estatueta de touro encontrada no sítio de Dotan, perto de Israel
datando cerca de 1200-1000 a.C. Cabe ressaltar que o Reino do Norte, até o seu
fim, em 720 a.C, pelos assírios, manteve-se politeísta, como relata uma
inscrição assíria conhecida como o prisma de Nemrod, no qual Sargão II relata a
tomada da capital do Reino do Norte: “Eu contei, como prisioneiros, 27.280
pessoas, com seus carros e os deuses em quem confiavam.”
6.2 – Em Judá
Uma das teorias para o início
do culto de Yhwh em Judá, o Reino do Sul, indica que este culto teve início por meio de Samuel que teve forte contato com o santuário de
Siló e ungiu Saul (se é que estes foram figuras históricas), ou então por Davi
(que tem seu nome atestado na estela de Tel Dan, conforme o consenso de
tradução da maioria dos estudiosos). Mas, independentemente destas hipóteses,
pouco a pouco, Yhwh foi ganhando espaço em Judá, deixando de ser um deus de uma
cidade para um deus nacional. Essa evolução parece terminada em uma inscrição
de Khirbet Beit Lei em uma tumba que pode significar o seguinte: “Yhwh é o deus
de todo o país (de toda a terra), as montanhas de Judá pertencem ao Deus de
Jerusalém.”. Essa inscrição data do século VIII ao século VI e reivindica um
território maior ao “deus de Jerusalém”. Em Judá, uma das características mais
marcantes é a apropriação de Yhwh da vitória sobre o Mar (Yam) realizada por
Baal. Yam é um monstro/dragão/serpente marinho(a), deus e personificação do
Mar, que é derrotado por Baal e este passa a ser rei (conforme KTU 1.10 III
12-15). Em contrapartida, temos na Bíblia Hebraica referências à batalha de
Yhwh contra monstros marinhos como Leviatã e Raabe.
No salmo 74, nos versículos 12-17, temos a referência de
Yhwh sendo elevado como rei após a batalha contra o mar e os monstros marinhos:
“Tu, porém, ó Deus, és meu rei desde a origem, quem opera libertações pela
terra. Tu dividiste o mar com o teu poder, quebrastes a cabeça dos monstros das
águas; tu esmagaste as cabeças do Leviatã dando-o como alimento às feras
selvagens. Tu abriste fontes de torrentes, tu fizeste secar rios inesgotáveis;
o dia te pertence, e a noite é tua, tu firmaste a luz e o sol, tu puseste todos
os limites da terra, tu formaste o verão e o inverno.”
Temos outros exemplos desse embate em textos como o Salmo
89, Salmo 93, dentre outros.
Este embate entre uma divindade e um monstro marinho que
personifica o próprio mar também pode ter referência ou ter uma releitura, a
partir do exílio, com base no poema mítico Enuma Elish, que retrará a ascensão
de Marduk, divindade babilônica, após derrotar Tiamat, monstro marinho que
representa o caos e o mar. Passaremos por essa fase mais adiante.
Em Judá (de certa forma, também em Israel), houve também
uma apropriação de elementos de cultos solares, dentre outros tipos de cultos
que não vamos abordar aqui para não estender mais ainda o texto.
6.3 – Conclusão do tópico
Enfim, características de diversos deuses do panteão cananeu,
sobretudo El e Baal, são, gradualmente, atribuídas a Yhwh. Neste momento, após
a destruição do Reino do Norte, um acontecimento é muito importante para a
definição da identidade de Yhwh e a transição de um politeísmo para um
henoteísmo (pelo menos na religião “oficial”): a reforma de Josias.
Estatueta de Baal encontrada em Ras-Shanra (antiga Ugarit), datada entre os séculos XIV-XII - possivelmente, havia uma lança em sua mão levantada.
7 – Tópico Extra - Informações Para o Leitor Leigo
Abro um “parênteses” aqui. Para o leitor totalmente leigo
no assunto, gostaria de deixar algumas informações para uma melhor compreensão
do que vem a seguir:
1 - As pesquisas arqueológicas mais atuais demonstram que
nunca houve um reino unificado entre Israel e Judá. Sempre foram reinos
separados.
2 - As pesquisas arqueológicas mais atuais demonstram que
nunca houve um “êxodo do Egito” do povo de Israel, da forma que descrevem as
narrativas bíblicas.
Não vou entrar em detalhes destes assuntos, pois ambos
são extensos. Fecho o “parênteses”.
8 – A Reforma de Josias e o Henoteísmo em Judá
Com o Reino do Norte já destruído pelos assírios em 720
a.C, Josias foi um rei que governou Judá no final do século VII a.C. e foi
amado pelos redatores bíblicos (2Rs 23:25; 2Rs 22:2). Josias fez uma reforma
religiosa, onde promoveu a centralização do culto no templo de Jerusalém e com
isso destruiu os “banot” (os “lugares altos”), santuários ao ar livre, em
muitos casos consagrados a Yhwh. Realizou modificações no templo removendo
símbolos cultuais de outros deuses, como Baal e Asherá. A reforma se estendeu
além do seu domínio, chegando a atingir o antigo Reino do Norte, onde destruiu
o altar do santuário javista de Betel. É bem provável que neste período surge uma versão primitiva do livro de Deuteronômio, onde as ideias de Josias
estão muito bem atestadas e o vocabulário do texto é muito semelhante ao texto que conta a história de
Josias.
Compare o seguinte:
Trecho do código da aliança: Êxodo: 20:24-25 – “Far-me-ás
um altar de terra, e sobre ele sacrificarás os teus holocaustos e os teus
sacrifícios de comunhão, as tuas ovelhas e os teus bois. Em todo o lugar onde
eu fizer celebrar a memória do meu nome, virei a ti e te abençoarei. Se me
edificares um altar de pedra não o farás de pedras lavradas...”
Nesse texto acima, há permissão para o levantamento de um
altar espontâneo em qualquer lugar.
Deuteronômio 12 já começa com uma destruição de lugares
altos muito semelhantes a da reforma de Josias e, em seguida, diz: “Em relação
a Yhwh... buscá-lo-eis somente no lugar que Yhwh vosso Deus houver escolhido,
dentre todas as vossas tribos, para aí colocar o seu nome e aí, fazê-lo
habitar. Levareis para lá vossos holocaustos e vossos sacrifícios, vossos
dízimos e dons das vossas mãos, vossos sacrifícios votivos e vossos sacrifícios
espontâneos, os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. E comereis
lá, diante de Yhwh, vosso Deus, alegrando-vos com todo o empreendimento da
vossa mão, vós e vossas famílias, com o que Yhwh teu Deus te houver
abençoado.” (vv 4-7). Ou seja, contrariando o texto de Êxodo, aqui o
sacrifício/holocausto deve ser realizado “somente no lugar que Yhwh houver
escolhido”. O tema da centralização do culto é tão importante, que é repetido
mais duas vezes, neste capítulo. Veja: “Fica atento a ti mesmo! Não oferecerás
holocaustos em qualquer lugar que vejas, pois é só no lugar que Yhwh houver
escolhido, numa das tuas tribos, que deverás oferecer teus holocaustos; e lá
que deverás por em prática tudo o que eu te ordeno.” (vv 13-14). E ainda: “Não
poderás comer em tuas cidades o dízimo do teu trigo, do teu vinho novo e do teu
óleo, nem os primogênitos das tuas vacas e ovelhas, nem algo dos sacrifícios
votivos que hajas prometido, ou dos teus sacrifícios espontâneos, ou ainda dos
dons da tua mão. Tu os comerás diante de Yhwh teu Deus, somente no lugar que
Yhwh teu Deus houver escolhido, tu, teu filho e tua filha, teu servo e tua
serva, e o levita que habita contigo.” (vv 17-18).
Então, Josias empreende a sua reforma e, no final da sua
vida, é dito que “Não houve, antes dele um rei que, como ele, voltou-se para
Yhwh com todo o seu coração, com toda a sua alma e com toda a sua força.” (2 Rs 23:25).
Fórmula idêntica à utilizada em Dt 6:4-5: “Houve, ó Israel: Yhwh, é o único
Yhwh! Portanto, amarás a Yhwh, teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua
alma e com toda a tua força.”.
Poderia também citar evidências glípticas e epigráficas
em sinetes e inscrições que podem corroborar a reforma de Josias, mas vou
seguir em frente.
Com a reforma de Josias, a centralização do culto e o
tema “Yhwh é o único Yhwh!” ou “Yhwh é um!”, Josias unifica Yhwh em um só. Se
antes, conforme as inscrições de Em Kuntillet Ajrud, havia um “Yhwh de Samaria”
e um “Yhwh de Temã”, agora não há mais. Não há mais distinção entre o Yhwh do
Norte, do Sul, de Betel ou de qualquer outro lugar. “Yhwh é um!” e seu lugar de
culto é o templo de Jerusalém.
Como religião e política andam de mãos dadas, o contexto
político é o seguinte: O império assírio, que dominava aquela região, estava em
decadência e, com a ascensão do império babilônico, tinha mais com o que se
preocupar e não podia dar muita atenção àquela região, deixando o antigo Reino
do Norte “abandonado”. Josias vê nisso a possibilidade de expandir o seu
território, abrangendo as terras do antigo Reino do Norte. Para isso, usa a
religião como ferramenta. É nesse momento que surge a história de um reino
unificado no passado e as primeiras narrativas da conquista da terra (segundo
alguns autores, Josué, é um “Josias disfarçado”) onde Yhwh mostra-se superior
aos demais deuses cananeus. Nessa época, surge o henoteísmo, que nada mais é
que a posição em que se cultua um deus e se assume a existência de outros
deuses, mas o seu deus é o maior entre eles. Em um contexto henoteísta (ou
monolátrico) faz sentido realizar afirmações como “Quem é igual a ti, ó Yhwh,
entre os deuses?” (Êx 15:11, conferir também 1Rs 8:23, dentre outras). Repare
que, em textos como este, não há uma afirmação de que os outros deuses não
existem, mas, sim que Yhwh é o maior dentre eles. Neste contexto, faz sentido,
Jefté utilizar um argumento teológico para resolver um problema territorial com
os amonitas: “Não possuis tudo o que teu deus, Camos, te deu? Do mesmo modo,
tudo o que Yhwh, nosso Deus, tomou dos seus possuidores, nós o possuímos!” (Jz
11:24). Nesse contexto, também podem ter surgido as primeiras versões de
algumas narrativas da vida de Moisés, cujo o nascimento se assemelha ao de
Sargão, escrita na época de Sargão II. Assim, como alguns tratados assírios,
como o juramento de lealdade, que em 672 a.C., Asaradon tinha feito para os reis
vassalos (Judá era vassala assíria nessa época) prestarem em favor do seu filho
Assurbanipal, podem ter influenciado a escrita do Deuteronômio com semelhanças
em alguns trechos.
Josias morreu sem conseguir implantar o seu projeto
político de um reino unificado. Segundo a narrativa na Obra Historiográfica
Deuteronomística (OHD), morreu em Meguido (2 Rs 23:28-30). Entretanto, os
autores posteriores, na Obra Historiográfica Cronista (OHC), enfeitaram um
pouco mais e colocaram a sua morte em Jerusalém e por não ouvir a voz de Yhwh
provinda do faraó Necao (2 Cr 35:20-25).
Pois bem, nesse momento, podemos dizer, que, ao menos
oficialmente, temos um henoteísmo em Judá. Mas não vai demorar muito para uma
nova mudança teológica surgir.
9 - Exílio e Pós-Exílio – Yhwh é o Deus Universal - Do Henoteísmo ao Monoteísmo
Alguns anos depois, Judá se torna vassala do império
babilônico, que em 605 a.C vence o exército egípcio (o Egito teve um rápido
controle sobre a região) em Carquemis. Em 598-597 a.C e 589-588 a.C, ocorrem algumas
revoltas políticas em Judá contra o seu soberano. Em 597 a.C, ocorre a primeira
deportação e em 598 a.C ocorre a segunda deportação e a destruição de Jerusalém
e do templo de Yhwh. Houve ainda uma terceira deportação em 582 a.C.. Com isso,
os judeus perderam sua terra, seu templo e seu rei. Com isso, entra a maior
crise religiosa do javismo. O pensamento era: “Ora, se Yhwh é o nosso deus
nacional e é o maior dentre os deuses, como podem os babilônios, que servem ao
deus Marduk, destruírem o nosso povo, a nossa terra e ainda mais, a própria
casa de Yhwh? Então, está claro que Marduk é maior do que Yhwh!”. Com isso, é
necessário que a elite religiosa possua uma resposta para a questão, senão
poderia ser o fim do javismo! A resposta é uma mudança teológica com uma releitura
dos acontecimentos, textos e tradições. Agora é o seguinte: “Na verdade, Yhwh
não é menor do que Marduk. Na verdade, Yhwh é o único deus!”. Yhwh agora passa
a ser o deus universal! E se os judeus então passaram pela desgraça que
passaram é por designio de Yhwh. O exílio é o castigo de Yhwh pelo pecado do
povo. Nesse momento, a escola deuteronomista produz a Obra Historiográfica
Deuteronomística (OHD - livros de Deuteronômio até 2 Reis, não ainda da forma
definitiva que temos em mãos, mas já em certa proporção). Com isso, pode-se
mostrar que o povo é culpado. No livro de Juízes, vemos de forma extremamente
repetida o loop:
1 - O povo está sob o domínio de outros povos;
2 - levanta-se um juiz javista, reconcilia o povo com
Yhwh e salva-o da opressão dos outros povos;
3 – o povo passa a servir novamente outros deuses;
4 – Yhwh os entrega à mão de outros povos;
Em seguida, o ciclo volta, repetidamente, ao ponto 1. O povo nunca
aprende a lição.
Com a monarquia, a idolatria é institucionalizada com
reis piores ainda, com cismas religiosos, etc. O quadro vai se deteriorando
cada vez mais nessa história a ponto de culminar no castigo final de Yhwh, a
destruição de Jerusalém e o exílio. Mesmo com o exemplo retratado na destruição do Reino do
Norte, o povo não muda, por fim, seguindo o objetivo da OHD, é o próprio Yhwh
que provoca a invasão babilônica (2 Rs 24:2-3 e 20)!
É nesse período de releitura, que vemos coisas nunca
vistas antes no javismo. Nabucodonosor, um rei de outro povo (babilônico),
passa a ser chamado servo de Yhwh (Jr 27:6). Posteriormente, Ciro, o rei persa,
que liberta o povo do exílio, é chamado de messias de Yhwh (messias é um termo
que vem do hebraico que significa “ungido”, assim como “cristo” é um termo que
vem do grego que também significa “ungido”) e pastor de Yhwh. Yhwh passa a ter
o controle universal, controle sobre todos os povos. E a casa de Yhwh? Agora,
Yhwh não mora mais em um templo, ele não depende disso, como se vê no livro de
Ezequiel, seu trono, agora, tem rodas e pode ir aonde ele quiser, inclusive na
Babilônia, junto aos exilados.
O livro de Isaías é dividido em 3 partes. A primeira
parte, composta pelos capítulos 1-39 é produzida, em sua forma primitiva, antes
do Exílio (com várias edições e inserções posteriores). A segunda parte,
composta pelos capítulos 40-55, chamada de Deutero-Isaías é produzida, à partir
do exílio. A terceira parte, composta pelos capítulos 56-66 é produzida depois
do exílio e é chamada de Trito-Isaías. Se você parar para ler o Deutero-Isaías,
produzido a partir do contexto do exílio, você vai notar como é repetido,
exaustivamente, o tema de Yhwh como único Deus existente (por exemplo em Is
41:21-29; 43:8-13; 44:6-18; 45:5-6; 45:14-25; 46:5-9; 48:5; etc ). Um outro
tema muito caro para o Deutero-Isaías é o tema de Yhwh como deus criador (por
exemplo em Is 40:26; 40:28; 41:18-20; 43:1 – atenção aos termos “criou” e
“modelou/formou”; 43:7; 43:15; 44:21-28; 45:7-13; 45:18; 48:6-7; 48:12-13;
49:8; 51:3 – referência ao Éden; 51:13-16; 54:5; etc).
É nesse contexto que surge, por exemplo, o primeiro dos
dois relatos da criação, que temos em Gênesis 1:1-2:4ª, que consiste em um
diálogo, ou, melhor dizendo, uma resposta ao mito da Enuma Elish da criação do
mundo e dos humanos e ascensão de Marduk como “o senhor”.
10 – Novas Questões Geradas pelo Monoteísmo
Com o passar do tempo, vão surgindo escolas como a já
citada deuteronomista e a sacerdotal, que vão tratar as coisas de forma um pouco
diferentes. Por exemplo, surge a questão: Como um deus universal pode estar
ligado a um povo específico? A escola deuteronomista responde com o
desenvolvimento da Aliança entre Yhwh e Israel, já a escola sacerdotal com um
monoteísmo inclusivo. Inclusive, com a ascensão do império medo-persa e após o
retorno dos exilados para a sua terra, em 538 a.C, sob a permissão do imperador
Ciro, o escrito sacerdotal vai se desenvolvendo cada vez mais com a história
dos patriarcas e do êxodo, mostrando uma revelação de Yhwh antes mesmo de haver
templo, de haver terra ou de haver povo de Israel. Agora, Yhwh não é mais
vinculado a nada disso. Ele não depende destas coisas.
Sob o domínio persa, há também diversas influências na
religião judaica. Yhwh adquire epítetos do deus persa Ahura Mazda, como “Deus
do céu”, epíteto que consta em muitos textos à partir deste período pós-exílico
(por exemplo: Esd 1:2; 5:11-12; 6:9-10; 7:12; 7:21; 7:23; Ne 1:4-5; 2:4; 2:20;
Dn 2:18; 4:34: 5:23; dentre outros). Na religião persa temos um forte dualismo
retratado por Ahura Mazda (bom) e Angra Mainyu (mal). Nesse período surgem
questões, como: “Um Deus único seria também o responsável pelo mal. Como pode
um Deus único ser responsabilizado pelo mal (veja Is 45:7) e ser bondoso?”.
Como resposta, a figura do Satã vai se desenvolvendo gradualmente e vai
substituindo o lado “maléfico” de Yhwh. Por exemplo, na história onde Davi
realiza um recenseamento do povo, feito que é tratado como um pecado no texto,
temos uma divergência entre o texto de Samuel (mais antigo) e o de Crônicas
(mais recente). Te faço a pergunta, quem incitou a Davi a realizar o
recenseamento?
2 Sm 24:1 - A Ira de Yaweh se acendeu contra Israel e
incitou Davi contra eles: “Vai”, disse ele, “e faze o recenseamento de Israel e
Judá”.
1 Cr 21:1 – Satã levantou-se contra Israel e induziu Davi
a fazer o recenseamento de Israel.
Veja, claramente, que Satã vai gradualmente, se
apropriando do “lado negro” de Yhwh. A origem da personagem Satã e seu
desenvolvimento na teologia judaica daria um outro texto mais detalhado. Talvez,
em outro dia, escreva uma postagem sobre isso...
11 – Monoteísmo Mesmo?
Obviamente, o monoteísmo não foi aceito de uma hora para
outra, mas, sim, bem gradualmente. Mesmo na época helenista (com o fim do
império persa e ascensão do império grego e suas divisões), temos textos
encontrados na comunidade de judeus de Elefantina, com juramentos por uma deusa
de nome Anat, com listas de pagamentos cultuais com referências a uma tríade
divina (Yahô, Anat e Assim-Betel).
Deixo aqui uma citação de Thomas Romer de um livro que
vou referenciar ao final da postagem: “O politeísmo não desaparece, portanto, tão facilmente
assim. Como lembra Pierre Lilbert, ‘o monoteísmo é muito difícil de ser
pensado’. Aliás, a palavra mesma reflete um conceito moderno. A bíblia hebraica
não conhece o termo ‘monoteísmo’, nem seu oposto ‘politeísmo’. Este último
parece ser atestado pela primeira vez, com Filo de Alexandria, no primeiro
século de nossa era, que opõe a mensagem bíblica à ‘dóxa polytheía’ dos gregos.
Quanto ao termo ‘monoteísmo’, parece ser um neologismo do século XII. Os
deístas falavam de ‘monoteísmo’ para designar a religião universal da
humanidade. Thomas Moore e outros aplicaram essa noção ao cristianismo para
distinguí-lo das outras crenças da Antiguidade e defendê-lo da crítica judaica
segundo o qual o cristianismo não respeitava o mandamento da exclusividade de
Deus. Enquanto os deístas utilizam o conceito de monoteísmo num sentido
inclusivo, os defensores das religiões reveladas lhes atribuem uma função de
exclusão (a fé monoteísta permite distinguir as religiões bíblicas das
outras).”.
12 – A Mudança Continua...
Por volta do século V, os samaritanos constroem um templo
javista em Gazirim (que no século II vai ser destruído pelos judeus sob o
reinado de João Hircano da dinastia dos hasmoneus) e são muito importantes na
formação de muitos textos do pentateuco. Por volta do século IV, o nome de Yhwh
vai deixando de ser pronunciado pelos judeus. Possivelmente, no século III, a
Torá é traduzida para o grego, aumentando mais ainda a ideia de um Yhwh
universal.
Séculos depois, por volta de 7-6 a.C. nasce um menino
chamado Jesus e, à partir daí, uma nova releitura será realizada. E Yhwh segue
mudando, mais uma vez...
13 – Referências:
ROMER, Thomas. A Origem de Javé: O Deus de Israel e seu nome. Paulus Editora, 2016.
(A principal fonte de informações para o texto foi este livro. Recomendo-o para quem quer se aprofundar no assunto.)
LOPES, Reinaldo José. Deus, Como Ele Nasceu. Editora Abril, 2015
(Recomendo este livro para o leitor
totalmente leigo que busca uma leitura leve sobre o tema.)
RIBEIRO, Osvaldo Luiz. Yahweh como um deus outsider: duas hipóteses explicativas para a introdução do culto de Yahweh em Israel. in Revista Ágora, nº 26. 2016. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/agora/article/view/14056. Acessado em 26 de janeiro de 2020.
MILLER, Patrick D. Israelite Religion and Biblical Theology:
Collected Essays. A&C Black, 2000.
BIBLIA. Bíblia de Jerusalém. Paulus Editora, 2012. notas e conteúdos de apêndice.






