Muitos cristãos, mesmo com anos de prática da sua
religião, chamam o seu deus de “Deus”. O termo “deus” não é um nome, mas,
sim, um título. Muitos não sabem que Deus tem um nome de verdade.
Indo direto ao ponto, o nome dele é יהוה. Transliterando estes caracteres hebraicos, teríamos "YHWH".
Essas 4 letras são conhecidas como o tetragrama sagrado.
Esse é o nome de Deus, que consta no texto em hebraico do
Antigo testamento. Nas traduções das maiorias das bíblias, troca-se esse nome
por “Senhor”. Há casos também do deus bíblico ser tratado por meio de títulos,
como, por exemplo, “elohim”( אֱלֹהִים),
que, basicamente, é o título “deus” mesmo (por exemplo, quando se fala de
“deuses” de outras nações, se utiliza o título “elohim”... pois, de fato, é um
título para uma divindade e não um nome próprio).
Nesse momento, talvez você já tenha se perguntado: “Mas
como se pronuncia o termo YHWH, já que não tem vogais?”. Bem, essa é uma
questão longa, onde não há um consenso claro. É o seguinte:
O hebraico, que é o idioma original do AT, possui um
alfabeto consonantal, ou seja, constituído apenas de consoantes. Não há vogais.
Somente muitos séculos depois, mais ou menos entre os séculos III e X da era
cristã, que alguns sábios judeus, chamados massoretas, preocupados com a
pronúncia oficial do termo, elaboraram alguns pequenos sinais para que fossem
encaixados entre as consoantes. Porém, se depararam com um problema. Os judeus
não pronunciavam o nome de YHWH por séculos. Umas das razões para isso, se
encontra em um dos dez mandamentos que estipula: “Não usarás em vão o nome do
teu deus”. Inclusive, na tradução grega do texto, que encontramos em
manuscritos como o Codex Vaticanus ou
Codex Sinaiticus já evita-se o uso
deste nome, trocando o tetragrama por títulos como o já mencionado “theós”
(“Deus”) ou “Kýrius” (“Senhor”). Como os judeus não pronunciavam o nome, então
já não havia uma forma consensual de se pronunciar o tetragrama. Inclusive,
foram-se aplicadas, então, as vogais de”’adōnāy” sobre o Tetragrama indicando
que ao se ler o tetragrama deveria-se pronunciar ’adōnāy (“Meu Senhor”) para,
justamente, evitar o nome. Não se podia substituir o tetragrama diretamente,
por ’adōnāy? Não. Pois, o texto consonantal original era sagrado e intocável. O
máximo seria colocar esses pequenos sinais (que parecem pequenos sinais de
pontuação) entre as letras significando as vogais. Por causa de umas regrinhas
gramaticais do idioma (tipo essas regrinhas: antes de “p” e “b” não se usa “n”,
mas sim, “m”), a primeira vogal “a” se torna “e” ficando assim: “YeHoWaH” ou,
como alguns textos que se contentam em incluir apenas a primeira e última
letra, “YeHWaH”(a primeira dessas duas formas, gerou, posteriormente, a leitura
do nome como o “Jeohvah”, trocando o “i” pelo “j” devido a evolução da fonética
latina, ou, simplesmente “Jeová”). Existe também a substituição do tetragrama
por “hashem” (“O Nome”), o que, com a aplicação da vocalização, poderia gerar
“Yahweh”.
Então, como o alfabeto era consonantal e a pronúncia do
nome não foi registrada, não é possível saber qual era o nome, certo? Bem...
mais ou menos...
Durante o passar do tempo, foram realizadas inúmeras
tentativas de se reconstruir a pronúncia do nome através de algumas evidências.
Uma das evidências utilizadas foram os nomes teofóricos (nomes constituídos com
elementos divinos) que fazem referência ao nome do deus hebraico, por exemplo
Yirmeyahu (Jeremias), Yesa Yaho (Isaías), Yehonatan (Jônatas), etc, expressões
como hallelu-yah (louvai a Yah) ou até mesmo outros frases de textos bíblicos
como que continham o nome de forma abreviada, como, por exemplo, “Minha força e
meu canto é Yah” (Ex 15:2), “Yah, YHWH é a minha força” (Is 12:2), etc. Através
dessa e outras evidências analisadas por especialistas, há uma possibilidade de
se realizar a pronúncia através de algo como Yahô/Yahu, mas sobretudo uma
grande possibilidade da primeira sílaba ser vocalizada por “Yah”, com um “a” no
meio.
Um outro exemplo, consta no texto de Êxodo 3, onde YHWH
estaria revelando o seu nome a Moisés. No texto, parece haver um jogo de
palavras do nome divino com o termo “ehyeh”, como uma rima ou trocadilho,
indicando que o nome divino terminaria também com “eh”.
Essas são algumas das evidências que podem sugerir uma
pronúncia como “Yahweh” (Iavé ou Javé). Esta forma, parece ser a mais popular e
é encontrada em algumas bíblias, como, por exemplo, a Bíblia de Jerusalém.
Alguns pais da igreja cristã também confirmam essa forma, entretanto, outros já
afirmam outras variações, como Yabé, Yaé, Yahô, etc.
Há também tentativas de se reconstruir com base em textos
de outros idiomas (babilônicos, egípcios, etc) que transliteram o termo ou
nomes teofóricos, que parecem evidenciar o já mencionado Yahô/Yahu. Um exemplo:
Há um texto grego encontrado em Qumran (4QpapLXXLev – esse é o nome do
manuscrito) que contém um fragmento de Levítico que traduz o tetragrama por
Yahô, mostrando que, nem sempre houve essa recusa de se pronunciar o nome, como
consta nos textos gregos mais recentes que temos.
Considerando Yahô, pode ser que mais antigamente, o
tetragrama poderia ser um trigrama, YHW, onde o “w” poderia não ter valor
consonantal, mas, sim se tratar de uma “mater lectionis” (certos casos, que
ocorriam no hebraico onde algumas consoantes eram usadas para indicar vogais)
indicando o som do “o”.
Sendo assim, será que essa forma mais curta (YWH) acabou
evoluindo para a forma mais longa (YHWH)? Ou será que ambas coexistiram, como consta
nas inscrições de Kuntillet Ajrud onde pode-se encontrar os dois termos?
Talvez o significado desses termos possa ajudar... Afinal
o que significa Yahô e Yahweh?
Bem... isso é assunto para outra publicação.
Para quem quiser mais detalhes:
A maior parte das
informações, eu tirei do livro “A Origem de Javé: O Deus de Israel e seu nome”
do autor Thomas Romer. Embora o assunto do livro seja a origem e a evolução do
Deus de Israel (assunto que estou pensando em tratar na próxima postagem do
blog - SPOILER!), no livro há um capítulo abordando o tema do nome divino.


É no mínimo curioso o abafamento dessas particularidades nas traduções dominantes para o português.
ResponderExcluirSim. Há "traduções" que apenas servem às "tradições".
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