segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

O NOME DE DEUS



Muitos cristãos, mesmo com anos de prática da sua religião, chamam o seu deus de “Deus”. O termo “deus” não é um nome, mas, sim, um título. Muitos não sabem que Deus tem um nome de verdade.

Indo direto ao ponto, o nome dele é יהוה. Transliterando estes caracteres hebraicos, teríamos "YHWH". Essas 4 letras são conhecidas como o tetragrama sagrado.

Esse é o nome de Deus, que consta no texto em hebraico do Antigo testamento. Nas traduções das maiorias das bíblias, troca-se esse nome por “Senhor”. Há casos também do deus bíblico ser tratado por meio de títulos, como, por exemplo, “elohim”( אֱלֹהִים), que, basicamente, é o título “deus” mesmo (por exemplo, quando se fala de “deuses” de outras nações, se utiliza o título “elohim”... pois, de fato, é um título para uma divindade e não um nome próprio).

Nesse momento, talvez você já tenha se perguntado: “Mas como se pronuncia o termo YHWH, já que não tem vogais?”. Bem, essa é uma questão longa, onde não há um consenso claro. É o seguinte:

O hebraico, que é o idioma original do AT, possui um alfabeto consonantal, ou seja, constituído apenas de consoantes. Não há vogais. Somente muitos séculos depois, mais ou menos entre os séculos III e X da era cristã, que alguns sábios judeus, chamados massoretas, preocupados com a pronúncia oficial do termo, elaboraram alguns pequenos sinais para que fossem encaixados entre as consoantes. Porém, se depararam com um problema. Os judeus não pronunciavam o nome de YHWH por séculos. Umas das razões para isso, se encontra em um dos dez mandamentos que estipula: “Não usarás em vão o nome do teu deus”. Inclusive, na tradução grega do texto, que encontramos em manuscritos como o Codex Vaticanus ou Codex Sinaiticus já evita-se o uso deste nome, trocando o tetragrama por títulos como o já mencionado “theós” (“Deus”) ou “Kýrius” (“Senhor”). Como os judeus não pronunciavam o nome, então já não havia uma forma consensual de se pronunciar o tetragrama. Inclusive, foram-se aplicadas, então, as vogais de”’adōnāy” sobre o Tetragrama indicando que ao se ler o tetragrama deveria-se pronunciar ’adōnāy (“Meu Senhor”) para, justamente, evitar o nome. Não se podia substituir o tetragrama diretamente, por ’adōnāy? Não. Pois, o texto consonantal original era sagrado e intocável. O máximo seria colocar esses pequenos sinais (que parecem pequenos sinais de pontuação) entre as letras significando as vogais. Por causa de umas regrinhas gramaticais do idioma (tipo essas regrinhas: antes de “p” e “b” não se usa “n”, mas sim, “m”), a primeira vogal “a” se torna “e” ficando assim: “YeHoWaH” ou, como alguns textos que se contentam em incluir apenas a primeira e última letra, “YeHWaH”(a primeira dessas duas formas, gerou, posteriormente, a leitura do nome como o “Jeohvah”, trocando o “i” pelo “j” devido a evolução da fonética latina, ou, simplesmente “Jeová”). Existe também a substituição do tetragrama por “hashem” (“O Nome”), o que, com a aplicação da vocalização, poderia gerar “Yahweh”.

Então, como o alfabeto era consonantal e a pronúncia do nome não foi registrada, não é possível saber qual era o nome, certo? Bem... mais ou menos...

Durante o passar do tempo, foram realizadas inúmeras tentativas de se reconstruir a pronúncia do nome através de algumas evidências. Uma das evidências utilizadas foram os nomes teofóricos (nomes constituídos com elementos divinos) que fazem referência ao nome do deus hebraico, por exemplo Yirmeyahu (Jeremias), Yesa Yaho (Isaías), Yehonatan (Jônatas), etc, expressões como hallelu-yah (louvai a Yah) ou até mesmo outros frases de textos bíblicos como que continham o nome de forma abreviada, como, por exemplo, “Minha força e meu canto é Yah” (Ex 15:2), “Yah, YHWH é a minha força” (Is 12:2), etc. Através dessa e outras evidências analisadas por especialistas, há uma possibilidade de se realizar a pronúncia através de algo como Yahô/Yahu, mas sobretudo uma grande possibilidade da primeira sílaba ser vocalizada por “Yah”, com um “a” no meio.

Um outro exemplo, consta no texto de Êxodo 3, onde YHWH estaria revelando o seu nome a Moisés. No texto, parece haver um jogo de palavras do nome divino com o termo “ehyeh”, como uma rima ou trocadilho, indicando que o nome divino terminaria também com “eh”.

Essas são algumas das evidências que podem sugerir uma pronúncia como “Yahweh” (Iavé ou Javé). Esta forma, parece ser a mais popular e é encontrada em algumas bíblias, como, por exemplo, a Bíblia de Jerusalém. Alguns pais da igreja cristã também confirmam essa forma, entretanto, outros já afirmam outras variações, como Yabé, Yaé, Yahô, etc.

Há também tentativas de se reconstruir com base em textos de outros idiomas (babilônicos, egípcios, etc) que transliteram o termo ou nomes teofóricos, que parecem evidenciar o já mencionado Yahô/Yahu. Um exemplo: Há um texto grego encontrado em Qumran (4QpapLXXLev – esse é o nome do manuscrito) que contém um fragmento de Levítico que traduz o tetragrama por Yahô, mostrando que, nem sempre houve essa recusa de se pronunciar o nome, como consta nos textos gregos mais recentes que temos.

Considerando Yahô, pode ser que mais antigamente, o tetragrama poderia ser um trigrama, YHW, onde o “w” poderia não ter valor consonantal, mas, sim se tratar de uma “mater lectionis” (certos casos, que ocorriam no hebraico onde algumas consoantes eram usadas para indicar vogais) indicando o som do “o”.

Sendo assim, será que essa forma mais curta (YWH) acabou evoluindo para a forma mais longa (YHWH)? Ou será que ambas coexistiram, como consta nas inscrições de Kuntillet Ajrud onde pode-se encontrar os dois termos?

Talvez o significado desses termos possa ajudar... Afinal o que significa Yahô e Yahweh?

Bem... isso é assunto para outra publicação. 

Para quem quiser mais detalhes:


A maior parte das informações, eu tirei do livro “A Origem de Javé: O Deus de Israel e seu nome” do autor Thomas Romer. Embora o assunto do livro seja a origem e a evolução do Deus de Israel (assunto que estou pensando em tratar na próxima postagem do blog - SPOILER!), no livro há um capítulo abordando o tema do nome divino.





2 comentários:

  1. É no mínimo curioso o abafamento dessas particularidades nas traduções dominantes para o português.

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